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Redação

Data

March 7, 2022

Sumário

Artigo de opinião de João Reis Fernandes publicado no Diário de Notícias

João Reis Fernandes, Diretor Executivo da Decode, assinou um artigo de opinião no Diário de Notícias com o título "O mundo mudou. Está a chegar a descentralização do local e horário de trabalho”. O texto pode ser lido integralmente abaixo.

Começo por salientar que todo este texto de opinião se baseia num exercício de generalização, que é sempre algo que prefiro evitar fazer, uma vez que existirão sempre outliers que não se revêm no mesmo. Contudo, sou um firme convicto que o debate e troca de opiniões é sempre algo salutar, pelo que convido quem o leia a deixar o seu ponto de vista.

Muito se tem falado do futuro do workplace, sobretudo no período pós início de pandemia, com a massificação do trabalho remoto. Sejamos honestos connosco próprios, é impossível regressarmos ao ponto em que estávamos e, a meu ver, só temos a ganhar com isso. As pessoas perceberam que conseguem ter um equilíbrio muito maior entre a sua vida pessoal e profissional com esta liberdade a nível de local e horário. Work-life Balance e Work-Life integration são conceitos que ganharam uma força tremenda nos últimos 2 anos.

Claro que exige uma maior capacidade de auto-gestão, para não acabarmos por trabalhar nem a mais, nem a menos do que seria suposto para a nossa função e objetivos. Claro também que nem todas as funções e atividades permitem esta liberdade, mas foquemo-nos exclusivamente nos cenários em que é efetivamente possível, caso os diversos intervenientes assim estejam dispostos.

Muito se tem debatido sobre semanas de trabalho de 4 dias, com mais ou menos horas por dia. A meu ver, esta discussão é apenas um adiar da discussão que efetivamente deveria existir, i.e., quais as formas, indicadores e mecanismos justos que temos de medir a produtividade das pessoas. Em paralelo, discutir como otimizar os processos nas empresas e nos organismos públicos, para que as pessoas possam desempenhar as suas funções de acordo com esses mesmo indicadores e mecanismos. A partir do momento em que isto seja definido e implementado, deveria passar a ser completamente irrelevante se a pessoa trabalha 4, 6 ou 8 horas por dia, se trabalha 3 ou 5 dias por semana, desde que consiga desempenhar os objetivos adequados para a sua função e nível de senioridade da mesma.

Pensando um pouco no futuro, acredito que as novas gerações - tão habituadas ao consumo rápido e cómodo potenciado pela tecnologia - não queiram passar 60-70 % do seu tempo útil disponível num escritório. Estamos a olhar para gerações que não estão dispostas a viver para o trabalho e que vão procurar integrar o trabalho na sua vida pessoal. O jogo mudou, vamos ter que passar a vê-lo do outro lado. Cada vez mais existirão nómadas digitais; as próprias leis dos países irão ao encontro desta liberalização do trabalho pois, mais uma vez, só temos a ganhar com isso.

"E a cultura das empresas?", poderão estar alguns a questionar-se. Esse é o grande busílis da descentralização do workplace: como implementar uma cultura empresarial se as pessoas não estão presentes fisicamente no escritório? É possível? Sim, é. Mas, para tal, os decisores têm que estar dispostos a fazer mudanças nos seus processos, a adotar técnicas e iniciativas diferentes, a estar dispostos a fazer concessões em certos pontos e também a sair daquilo que se calhar é confortável pois foi feito durante muito tempo e resultava. São grandes desafios, mas o que não falta são profissionais altamente qualificados para os agarrar e resolver. A cultura empresarial como a conhecemos tem os dias contados, quanto mais rápido percebermos isso, mais rápido conseguiremos agir e criar novas realidades.

O mundo está a mudar, e com isso mudam-se as mentalidades. Deixámos de competir apenas com as pessoas e empresas locais ou nacionais e passámos a competir com o mundo inteiro. Esta é uma realidade cada vez mais presente. É bastante natural ter equipas multiculturais hoje em dia, bem como ver pessoas de diversas nacionalidades e etnias a concorrer para a mesma vaga no mesmo país.

O mundo e o que vemos como o Trabalho evoluem, porque não evoluir com eles?